Apesar do avanço tecnológico, a indústria de exibição cinematográfica continua atraindo fãs e clientes para as salas de cinema

Marcelo Santiago

Não é preciso ir longe para ter acesso às diversas opções de filmes em diferentes aparelhos ou aplicativos. 
Um dos exemplos mais emblemáticos é a Netflix, a provedora global de filmes e séries que possui 137 milhões de assinantes no mundo, sendo que, ganhou mais sete milhões apenas no terceiro trimestre de 2018. Por meio dos seus serviços, é possível assistir a filmes sem a necessidade de fazer download, o que torna mais rápido o acesso ao seu conteúdo online.

Concorrência:

Em 2018, entre os assinantes dos serviços de filmes online, 75% optam pela Netflix, um aumento de 10% com relação ao ano anterior.

Assinatura de serviços de filmes online:

Netflix	75%
Net Now	11%
HBO	6%
Não assinam	20%

Mas apesar da praticidade e comodidade que a televisão via streaming (informações multimídia transmitidas pela internet) oferece, há quem prefira assistir aos filmes no tradicional ambiente do cinema, ou seja, à moda antiga. 
Para se ter uma ideia, o município de Blumenau é o segundo maior do estado em número de público e renda, ficando atrás apenas da capital, Florianópolis. Ao todo são 494 mil espectadores e uma renda de R$7.695 registrados nas exibições, de acordo com a Agência Nacional de Cinema. 

João Cenair Portalete é gerente da marca GNC cinemas e mais do que um funcionário da empresa, é também um grande apreciador desta magia cinematográfica, como ele mesmo denomina:  
“é um encanto e marca a vida de muitas pessoas. Uma nostalgia que não tem preço ou tecnologia que derrube”. Com muita empolgação, João relembra a época em que não trabalhava no cinema e precisava aguardar na rua para chegar a uma bilheteria e comprar seu ingresso. Não havia Bombonière (ponto comercial de alimentos e bebidas) e muito menos o conforto que encontramos atualmente no seu ambiente interno. 

Em 2018 ocorreu uma redução de 112 mil espectadores nas exibições cinematográficas, comparado ao ano anterior. Essa queda de público, pode- se atribuir também ao preço alto dos ingressos, tendo em vista o aumento do valor nos últimos anos.

A média do ingresso no Brasil foi de R$ 14 para R$15 em 2017, crescimento de R$ 0,90 na média (6%).

O deslocamento até o shopping mais próximo e o aumento nos valores de bilheteria (incluindo bebida e comida), acabam de certa forma afastando o público. Para aqueles que são aficionados pelo cinema, é difícil chegar à entrada principal e não ser atraído pelo aroma da pipoca recém estourada na máquina ou mesmo sentir a emoção em prestigiar um filme tão aguardado dentro daquela sala fria, escura e silenciosa. 

A paixão pelo cinema é tanta, que algumas pessoas buscam registrar e eternizar de alguma forma esse momento em sua vida. É o caso de Renata Dutra Raduenz e do Rogério Mellies, um jovem casal que além do amor que sentem um pelo outro, também mantém um relacionamento sério com o cinema. Renata ,por sua vez, faz questão de exibir (literalmente) a todos a sua paixão. Ela detém a imagem de um projetor de rolo tatuado em seu ombro, podendo assim levar consigo este símbolo tão importante na vida do casal. 

Eles, inclusive, vêm mantendo essa atividade prazerosa há pelo menos oito anos e não pensam em parar de maneira alguma. “Como somos da época dos filmes projetados em rolo, a gente adorava sentar na última fileira da sala para poder ouvir aquele barulho do rolo sendo projetado, enquanto todos estão em silêncio”, conta Rogério. 

Durante o mês inteiro chegam a assistir três ou quatro sessões e para ambos, aquele é o momento de relaxar, ficar em silêncio e apenas prestar atenção no filme, sem qualquer outro tipo de preocupação ou distração. 

Para o comerciante Ramon Felipe Soares, de Farroupilha (RS), o cinema o atrai por poder compartilhar emoções e sentimentos com o público durante o filme, seja por um momento de tristeza, medo ou felicidade. Em sua vinda para Blumenau, não perdeu a oportunidade de prestigiar um bom filme, na presença de sua sobrinha, que mora em Gaspar. 

A estudante de jornalismo, Júlia Henn, também é uma cinéfila (fã do cinema) assumida.  Ela comenta que prestigiar um filme não se trata apenas de um mero entretenimento e sim uma paixão, talvez até mesmo, certa obsessão. “O cinema se difere dos outros, principalmente para quem é apaixonado pela arte cinematográfica, porque o prazer de se assistir um filme numa sala de cinema e com aquela tela imensa é incomparável”, afirma. 

São histórias e relatos como estes, que ajudam o cinema a “sobreviver” por tanto tempo em meio à chegada de outros aparelhos eletrônicos de vídeo, como o videocassete, DVD, TV por assinatura e agora as transmissões por internet. Para isso, as empresas precisam investir também em novas atrações, se readaptar a realidade e descobrir outras maneiras de resgatar esse público. “Já temos as bombonière, o marketing de produtos relacionados aos filmes e a exibição de jogos de futebol e shows de músicas. O cinema deixou de exibir apenas filmes, para tornar-se uma área de lazer completa”, relata João, gerente do GNC.
        
Outro fator que chama a atenção é onde estão localizadas as salas de cinema no Brasil. Ao todo são 3.223 salas comerciais e destas, 2.879 se encontram em ambientes fechados (shopping centers), o que representa 89,3% e pouco mais de 340 em ambientes abertos. 

Em Santa Catarina, apenas o município de Lages ainda abriga seu tradicional cinema de rua, o Cine Marrocos. Inaugurado em 1964, é um verdadeiro museu a céu aberto que têm preservado a história, essência e a famosa magia do cinema.

Investindo para o futuro:

Instituído pela Lei 12.599/2012, o programa Cinema Perto de Você foi criado com objetivo de expandir o mercado interno e acelerar a implantação de salas no país. O programa é gerenciado pela ANCINE em parceria com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e com a Caixa Econômica Federal. O Cinema Perto de Você pretende fortalecer as empresas do setor e levar o cinema e serviços culturais para mais perto de todos os brasileiros, facilitando o acesso da população às obras audiovisuais por meio da abertura de salas em cidades de porte médio e bairros populares dos grandes municípios. Essas medidas representam um desafio aos empreendedores para o crescimento e uma oportunidade para o fortalecimento e a modernização do cinema no Brasil.

Fonte: Ancine