O Coletivo Colmeia Laboral Multicultural de Experimentações e Intervenções Artísticas foi fundado em 2012 por Dalmo Dal Molin e Clóvis Truppel. O surgimento do coletivo foi precedido por movimentos como o “Vamos Si Uní”, composto por grupos urbanos, jovens, estudantes e a comunidade de Blumenau, que ocupavam espaços públicos em situações de depredação. Além disso, o Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (FITUB), criado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) em 1987, também teve importância no cenário artístico da cidade. Em 2009, a ausência do festival, devido a questões políticas, levou à criação do evento “Nosso Inverno”, organizado por artistas locais como uma forma de resistência. Esse evento durou 24 horas e contou com a participação de diversos artistas independentes.
Os movimentos de ocupação artística resultaram na criação do Colmeia, um evento multicultural que passou a utilizar o Teatro Carlos Gomes, um espaço tradicional de Blumenau. O coletivo é conhecido por sua flexibilidade e transformação contínua, como destacado na “Carta Colmeia”, um documento atualizado anualmente. A proposta, inclui a integração de diversas formas de expressão, a democratização do acesso à arte e o fomento da diversidade artística. Em 2012, o Colmeia se firmou como uma iniciativa que se opõe à hegemonia cultural germânica da cidade, abrindo espaço para artistas alternativos e marginais.
O evento adota as abelhas como símbolo, em referência ao trabalho coletivo e à diversidade de suas vertentes. Composto por grupos independentes de hip-hop, bandas, teatro, poesia, artesanato e artes visuais, o coletivo se originou da necessidade de dar visibilidade a artistas que não conseguiam se expressar nos eventos culturais tradicionais da cidade. O “Nosso Inverno”, evento precursor, evoluiu para o que hoje se caracteriza como Colmeia.

Raquel Gastaldi, monitora do evento desde a sua segunda edição, compartilhou suas impressões sobre o crescimento contínuo da iniciativa: “Está crescendo a cada ano. As abelhas, os participantes do evento, vão se trocando ao decorrer das edições. Eu sou uma das velhas ainda, mas as abelhas estão fluindo e se renovando no enxame.” Ela destacou a importância do Colmeia como uma oportunidade para os jovens se manifestarem, mencionando que o evento tem sido um espaço de resistência artística e social: “Nós somos tão violados, tão colocados numa jaula, que a gente acaba resistindo. E é isso que a humanidade precisa.”
Assim como Raquel, Vera Borges, professora de artes visuais e expositora pela primeira vez na 11ª edição do evento, também destacou a relevância do Colmeia para a comunidade. “O Colmeia veio como um presente. Eu comecei como ajudante no espaço criativo e hoje estou expondo. É um momento mágico”, relata Vera, que participa do evento desde 2022. Segundo a professora, o Colmeia tem enfrentado desafios, como a falta de apoio da prefeitura, mas isso não desanima os organizadores: “O que a gente está fazendo aqui esse ano faz história.” Vera ainda comentou sobre o preconceito em relação à arte em Blumenau, apontando que, apesar disso, o evento tem conquistado espaço: “Blumenauense tem um pouco de preconceito com essa liberdade de expressão, mas a arte não foi feita só para ser consumida aqui dentro, ela foi feita para ir além.”
Em 2016, surgiu a “Polinização”, iniciativa que leva parte do evento principal a diversos espaços culturais e públicos de Blumenau. A Polinização acontece mensalmente desde 2020, promovendo a democratização da arte por meio de ações gratuitas. Em 2019, o coletivo lançou a Rota de Artes Acessíveis, que inclui obras adaptadas para pessoas com deficiência, com braille, audiodescrição e Libras. Para 2024, o Colmeia reafirma seu compromisso com a acessibilidade, promovendo novas parcerias e ações.

GT’s do Colmeia: Conectando arte, educação e saúde para toda a sociedade
O evento Colmeia conta com Grupos de Trabalho (GTs) que desempenham funções na organização e realização das atividades. Esses grupos são criados para atender demandas específicas, promovendo espaços de aprendizado, trocas culturais e inclusão social. Os GTs reúnem diversas expressões artísticas, culturais e sociais, como o GT Educação, voltado para crianças e adolescentes, e o GT Saúde Mental, que une arte e cultura à promoção do bem-estar psicológico. Cada grupo busca dar visibilidade a cultura e estimular a formação de uma sociedade mais inclusiva e consciente.
O GT Educação, criado em 2022, é programação especial para crianças e adolescentes que acontece no Grande Evento do Coletivo Colmeia, unindo os antigos GTs de Oficinas e Infância. Esse grupo organiza a Rota de Arte para as Infâncias, que busca incluir crianças e jovens nas atividades do evento, com foco na formação estética e artística. Além disso, promove espaços de ensino e aprendizagem nas edições do Colmeia e nas Polinizações, com atividades culturais voltadas para o público infantil.
Em 2023, o coletivo criou o GT de Saúde Mental, que visa articular arte, cultura e saúde mental. O grupo busca promover a subjetivação e a saúde mental por meio das diversas manifestações artísticas, valorizando a diversidade de saberes e existências dos participantes.
O objetivo do GT é dar visibilidade às manifestações culturais e artísticas que produzem saberes populares e se contrapõem aos ideais hegemônicos e coloniais que ainda persistem. O projeto inclui movimentos como a Capoeira, Artesanato, Arte de Rua, Maracatu e outras expressões populares que fazem parte do coletivo.
Além disso, o evento serve como oportunidade de divulgação e apoio a causas de projetos diversos, como a participação do órgão de proteção ambiental, Greenpeace. Luiz Henrique Reus, analista ambiental e representante do Greenpeace, fala sobre a importância de trazer o debate ambiental para o Colmeia. Para ele, foi uma oportunidade de incluir temas que ainda não eram amplamente abordados nas edições anteriores. “O Colmeia traz muito isso, das pessoas fora do meio. A gente viu que o Greenpeace iria se encaixar aqui”, comenta. Reus destaca que a presença do Greenpeace traz uma nova dimensão ao evento, integrando a educação ambiental às atividades artísticas. “A nossa presença trouxe um foco ambiental, algo que não fazia parte das edições anteriores”, acrescentou O analista também ressalta o papel do Colmeia em promover a troca de experiências e a superação de preconceitos, oferecendo um ambiente acolhedor e acessível. “O Colmeia ajuda a trabalhar com o preconceito, oferecendo um espaço aberto e gratuito para a troca de experiências e aprendizado”, conclui.
Coletivo Colmeia 2024
Em 24 e 25 de agosto de 2024, o Coletivo realizou sua 11ª edição no Teatro Carlos Gomes, com uma programação multicultural gratuita. O evento teve como destaque o GT Educação, que organizou oficinas e contação de histórias para crianças, e a 4ª edição da Rota de Arte Acessível, com atrações adaptadas para pessoas com deficiência. Uma roda de conversa sobre “Acessibilidade Cultural” também integrou a programação, com uma intervenção de tour tátil. Neste ano, mais de 128 atrações de diversas áreas aconteceram simultaneamente durante todo o fim de semana.
As atrações incluíram palhaçaria com audiodescrição, artes cênicas e cinema com Libras, além de artes visuais e fotografia com audiodescrição via QR Code em alto-relevo e a presença de intérpretes de Libras. A capoeira também contou com interpretação em Libras, tour tátil e audiodescrição, e a literatura apresentou obras impressas em braile de poetas locais e nacionais.
O Grupo de Trabalho de Cultura Popular também foi destaque nesta edição. A história do Colmeia embarcou em sua composição com manifestações de culturas populares, como as afro-brasileiras, do Maracatu de baque virado, e tantas outras que evidenciam a constituição plural da cultura brasileira. A Cultura Popular é constituída por linguagens como música, dança, festas populares, lendas, contos e artesanato. Além de destacar a transmissão oral do conhecimento entre gerações, prática que mantém saberes qu constituem as identidades e formas de viver de um povo.

De acordo com um comunicado oficial, a edição deste ano enfrentou desafios logísticos. A prefeitura impediu a realização de apresentações e intervenções artísticas na praça do Teatro Carlos Gomes devido à preservação das novas plantações dos canteiros. Com isso, todas as atrações planejadas para o espaço aberto foram realocadas para o interior do teatro.
O Coletivo Colmeia, ao longo de 13 anos de existência, tem sido uma plataforma para a divulgação de diversas manifestações artísticas e culturais em Blumenau. Além de abrir espaço para novos artistas, o evento promove a inclusão e o diálogo sobre questões ambientais, acessibilidade e saúde mental, ampliando o alcance da arte e incentivando a quebra de preconceitos. “É uma oportunidade para todo mundo conhecer novos artistas e acho que Blumenau está mais aberta para novas ideias. O Colmeia influenciou isso, porque aqui abre uma oportunidade para novos artistas se expressarem.”, destaca Katlin Dionísio, designer e participante do evento. O coletivo desempenha um papel essencial na promoção da diversidade cultural, ao fortalecer a identidade artística local e criar possibilidades de expressão para a cidade de Blumenau e região. Assim, o Colmeia segue como um farol de inovação e inclusão, conectando talentos e construindo um futuro culturalmente mais diverso e vibrante para Blumenau.
Por: João Mussoi, Matheus Lavall e Nicole de Liz