A jornada de Gelza: arte e resiliência 

Um retrato de dedicação, criatividade e a importância do apoio à produção artesanal

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Gravação por Caçane Maloz

Em Barra Velha, onde o som do mar se mistura com a rotina de uma dedicada mãe de 50 anos, vive Gelza Wink, artesã e microempreendedora. Ela se tornou um símbolo de luta e da arte do trabalho manual. Acorda antes das seis da manhã para percorrer os 80 quilômetros até Blumenau, onde as feiras de rua se destacam pelo artesanato. A cada domingo, ela embarca em uma maratona de sorrisos e dedicação, levando não apenas suas criações, mas também a história de quem as fez.

Gelza em seu gazebo na feira do Brique Blumenau/Foto: Caçane Maloz

A arte como refúgio e sustento

“Trabalho praticamente sete dias por semana”, revela Gelza, refletindo sobre sua rotina intensa. Com massa de biscuit e cerâmica fria, cada peça que cria passa por um processo meticuloso de secagem e pintura, uma relação entre a criatividade e o tempo. “Enquanto algumas partes secam, aproveito para trabalhar em outras ou preparar as embalagens. É um fluxo constante, onde cada dia traz novos desafios”.

Para Gelza, o trabalho artesanal não é apenas uma paixão, mas também uma necessidade. Gelza se dedica a cuidar de sua filha, que possui autismo e TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), e essa responsabilidade molda sua vida e suas escolhas. “Decidi ficar em casa para acompanhá-la, e foi assim que a arte entrou na minha vida de maneira mais intensa.” O que começou como um passatempo, logo se transformou em uma fonte de renda, à medida que amigos e familiares começaram a pedir suas criações.

Os desafios da vida de artesã

Embora Gelza tenha encontrado seu caminho no artesanato, a jornada é repleta de desafios. “Comprar material é complicado. Aqui em Barra Velha, é tudo bem limitado, então 90% do que preciso vem da internet.” E com isso, os custos do frete impactam diretamente seus lucros. Cada peça que ela vende carrega não apenas o esforço da produção, mas também a realidade de uma vida que exige equilíbrio constante entre trabalho, cuidados e criatividade.

As feiras de rua se tornaram uma vitrine importante para Gelza, não só para suas vendas, mas também como um espaço de interação e aprendizado. “Elas são a minha loja”, afirma Gelza, com um brilho no olhar. “Na feira, posso interagir com os clientes, explicar o processo de criação e sentir a reação deles ao ver meu trabalho.”

Vídeo do começo da feira até o local onde Gelza fica/Crédito: Caçane Maloz.

A Feira do Brique

A experiência de Gelza na feira vai além das vendas, é uma oportunidade de aprendizado. “A feira é imprevisível. Às vezes, o dia começa nublado e depois melhora. Outras vezes, o sol brilha e as vendas não acompanham. Aprendi a levar parafusos e uma parafusadeira para fixar o meu gazebo, e sempre carrego itens necessários, como absorventes. Esses imprevistos me ensinaram a estar sempre preparada.”

A Feira do Brique Blumenau não é apenas um espaço para vender, é um ponto de encontro que movimenta emoções e economias. Gelza destaca que a feira oferece um público diversificado e a oportunidade de mostrar seu trabalho em um ambiente humano e acolhedor. “Cada cliente traz suas dúvidas e expectativas. A interação é única. Às vezes, uma pessoa chega com preconceitos, achando que artesanato é sempre barato. Eu amo essa troca, porque é a chance de desmistificar isso”.

Conheça um pouco dos produtos que Gelza vende/Crédito: Caçane Maloz.

André Rodrigues, organizador da feira, comenta a importância da feira para Blumenau: “Nos domingos em que a feira não acontece, a cidade parece mais vazia. Quando as barracas se montam, a vida pulsa”. Durante a pandemia, a feira se manteve, mostrando que, mesmo em tempos difíceis, a comunidade apoia o artesanato local.

A era digital e as lojas colaborativas

Em meio à agitação das redes sociais, Gelza usa Instagram e WhatsApp, mas prefere o contato pessoal. “Já tentei workshops e mentorias, mas isso toma muito tempo. Para mim, é mais produtivo estar criando.” A ideia de uma loja colaborativa brilha em seus olhos. “Seria a solução ideal. Uma loja onde os artesãos podem se reunir e dividir custos, em vez de ter que bancar tudo sozinha. Isso permitiria que eu tivesse uma renda constante durante a semana, sem depender apenas das feiras.”

Conheça o instagram da Gelza pelo link: https://www.instagram.com/gelzawink/ 

Ela conta que, mesmo com suas limitações, lojas colaborativas em outras cidades funcionam bem, como a da sua antiga cidade, Chapecó em Santa Catarina: “Esses espaços trazem o espírito da feira para dentro de um ambiente fixo. Quando estamos lá, é como se estivéssemos atendendo nossos clientes de forma mais pessoal.”

Gelza é um exemplo claro de como o artesanato pode ser tanto uma forma de expressão quanto um meio de sustento e superação. Sua história, marcada pela dedicação e pelos desafios diários, destaca a importância de apoiar o trabalho artesanal e a resiliência frente às adversidades.

Mesmo em um mundo cada vez mais digital, Gelza valoriza o contato pessoal e a troca genuína, mostrando que, no fim, o que realmente move a arte é a paixão e a conexão humana.

Por: Caçane Maloz

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