Jornalista de esportes fala sobre a própria carreira, com Copas do Mundo, e incentiva a nova geração de jornalistas
Karoline de Souza
Conhecido nacionalmente no universo do futebol, o jornalista e radialista Eraldo Leite, da Rádio Globo/RJ esteve na noite desta terça-feira na FURB para a 3ª Semana Acadêmica de Jornalismo.
Uma entrevista exclusiva e descontraída com o brasileiro sobre sua trajetória e importância do jornalismo esportivo. Com toda a sua experiência desde 1982, Eraldo Leite e a cobertura da Copa do Mundo tem grande significado, devido aos momentos intensos e emoções vividas. Ele revela que atualmente vive-se no século do conhecimento e esse século está nas mãos de cada um.
TAL: Como surgiu a sua paixão por tornar-se jornalista esportivo?
Eraldo: Quando eu tinha 15 anos e estudava no Ensino Médio, fui fazer um quadro em um programa sobre esportes de estudantes. O programa chamava-se Gente que Estuda e o quadro era sobre teatro. Lá na minha cidade do interior, tão pequena que assimilo com o Vale do Itajaí, eles faziam esse programa na rádio local, que tinha vários segmentos como economia, o que funcionava ou não na cidade e por isso chamava pessoas para entrevistar sobre assuntos de educação, cultura e ninguém falava de esportes. O responsável que comandava o programa, filho da professora de teatro da época, me chamou para isso. Nesse momento era para falar dos jogos estudantis e intercolegiais que existiam nas cidades do interior de estado. Então eu fui falar disso, de esportes amadores e querendo ou não, sempre migrava para o esporte profissional, como Flamengo e Vasco, Fluminense e Botafogo. Foi por causa disso que o diretor me ouviu e pediu “quem é esse cidadão? Tem uma voz bonita e se expressa bem”. Me chamou para fazer um teste na rádio para um programa e eu fui. Todos que trabalhavam lá eram bem mais velhos, da idade do meu pai por exemplo e aí fiz dupla com uma pessoa mais velha, espelhando-se em grandes duplas de repórteres do Rio de Janeiro e a gente evoluiu. De médico para jornalista, foi um susto para minha família, mas depois que passei na faculdade e antes mesmo de terminar eu já estava trabalhando na Rádio Nacional.
TAL: Quais eram as suas expectativas antes de iniciar e ao término da graduação em jornalismo?
Eraldo: Antes de iniciar eu já tinha muita convicção do que queria, me formar em jornalismo e seguir com a carreira no esportivo. O tempo inteiro da minha vida eu persegui esse caminho e eu acho que consegui. Eu queria ser um bom repórter, ser parte da primeira equipe de rádio do Rio de Janeiro e do Brasil, eu consegui fazer. Até fui mais adiante, me tornei chefe de reportagem, fui coordenador de uma equipe de 30 pessoas durante 13 anos e isso foi além da minha expectativa.
TAL: Como você avalia a função do jornalismo? Qual a importância à sociedade?
Eraldo: Para o jornalismo, o que dá a vida e formação no modo geral é o campo. O jornalista tem que ter contato com a notícia por meio das mídias também, não é ele que fica só ouvindo o que é veiculado, por isso tem a sua importância. Por sua função, as vezes tem dificuldades com acesso e produção da informação, mas com conversas, vítimas e especialistas, tem muito mais para contar o que sabe. A vida do repórter é a vida de informação dos jornalistas.
TAL: A ausência de jornalistas mulheres em cargos no esporte também prejudica o combate à desigualdade da área. Qual a sua opinião?
Eraldo: Tenho dificuldades para entender a ausência e desigualdade de gêneros. Isso de mulher e homem ter ganhos diferentes, não pode ser por aí, não consigo entender isso. Mulheres e homens tem que disputar o mesmo espaço, isso significa o mesmo salário também. Falam que existem poucas mulheres no cargo de chefia mas eu te diria que existem muitas. Como por exemplo, há muito tempo, a diretora geral da rádio CBN foi uma mulher, a Marize Tavares. Não sei te dizer o percentual correto, mas eu acho que não faz sentido esse tipo de comparação. No geral, a mulher tem muita competência e pode sim ocupar cargos mais altos, como o de chefia, realmente não vejo o porquê isso ser diferente.
TAL: Se não fosse pela parte do esporte, o que gostaria de fazer?
Eraldo: Eu seria médico ou psicólogo, até mesmo por influência da família. O meu avô era médico de família na década de 60, cuidava de todos os doentes, desde crianças e adultos.
TAL: Qual conselho daria para quem deseja atuar na área?
Eraldo: Tem muita gente que quer ser apresentador de telejornal logo no início, mas não é por aí, comecem sempre pela reportagem, o outro só é alcançado futuramente, no final. Se ao longo do caminho você errar, não tenha medo de dizer que errou. Em toda situação, você não deve passar por cima da verdade dos fatos. O jornalismo está em constante transformação, se adequando na medida em que a velocidade vai se produzindo. Se você tem dificuldades, olhe para trás, analise, reavalie a situação e retome. Os tempos que vivemos são os tempos do conhecimento. Eu por exemplo, todo dia estou aprendendo pois nunca devemos deixar de conhecer coisas novas. Dentro desse desejo, você pode aprender um novo idioma, tentar outra formação. Aprender nunca é demais, por isso experimente. Um jornalista não pode falar ou escrever errado, aproxime-se do português. Se você tiver dúvidas com verbos, troque-o, não tenha problemas. Não tenham preguiça de fazer uma pesquisa, já que com um click está tudo na sua mão, não deixem perguntas sem respostas. Nós vivemos o século do conhecimento e esse século está na mão de vocês.
TAL: Atualmente faz outras atividades, além do trabalho atual?
Eraldo: Hoje eu sou presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro, fui fundador e presidente da Associação dos Cronistas do Brasil, que envolve os cronistas do país inteiro e continuei fazendo parte das diretrizes depois de quatro anos como presidente. Atualmente me aventuro em aulas de jornalistas esportivos com uma turma de curso livre na faculdade Pinheiro Guimarães e uma turma de pós-graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Inclusive, desempenho funções na internet através de um canal no Youtube.
TAL: A sua especialidade é a narração, principalmente dos clubes do Rio de Janeiro e você, com certeza, deve ter o seu clube do coração. Por isso, como fazer para “narrar imparcialmente” uma partida, sem que ouvinte perceba uma certa recaída para um dos lados?
Eraldo: É preciso muita vigilância de si mesmo, você tem que ter um autodomínio muito grande sobre suas emoções para você narrar um fato, independentemente de ser o seu time do coração. No meu caso é o Botafogo mas eu nunca cobri um jogo dele e sim os jogos do Flamengo por oito anos, o Vasco por sete anos e procurei sempre não me deixar envolver por essa proximidade com o time que eu estava cumprindo pra ser isento. Tem que ser absolutamente verdadeiro, transmitindo a realidade do fato que estava cobrindo com uma vigilância permanente que tem que ter consigo.
TAL: Como você já participou da cobertura de dez Copas do Mundo, consegue fazer um balanço da primeira e a mais difícil Copa?
Eraldo: A minha primeira Copa foi em 1982, a Copa da Espanha e de lá para cá fiz todas as Copas estando presentes no local, na linha de frente. Muita gente já fez isso de cobrir, mas não foi até lá, ficou apenas vendo e repassando de alguma forma. A mais difícil foi a Copa da Coreia, em dois países com fuso horário complicado. Até porque no rádio tem um certo horário para o futebol, que não seria na parte da manhã, mas quando se trata de Copa do Mundo tem uma exceção. Nem todos aceitavam porque tinham rádios com programação forte nessa parte da manhã, aí teria que tirar do ar os comerciais e não aceitavam colocar os jogos da Copa.
TAL: A Copa da Rússia conteve o chamado árbitro de vídeo. Acredita que esse recurso foi positivo para o futebol?
Eraldo: Não foi, veio na contramão porque eu acho que está mal aplicado. O árbitro de vídeo não pode julgar interpretação. O ato de vídeo é uma discussão muito ampla, mas sintetizando, o futebol ter uma velocidade e o árbitro de vídeo, julga a câmera lenta. Na câmera lenta qualquer proximidade do jogador provoca o contato. O futebol é um esporte de contato na velocidade do jogo, que é como você deve julgar as ações em uma partida de futebol. Por isso não é falta, se você parar no vídeo, na câmera lenta vai ser sempre falta, então você teria que parar todos os lances e não apenas um.