Cursos, grupos culturais e encontros promovem a difusão da língua entre descendentes de italianos e amantes da Itália
Embora a imagem cultural de Blumenau esteja historicamente associada à imigração alemã, a presença italiana também é marcante e profundamente enraizada na história e nas tradições da região. Desde o final do século XIX, milhares de famílias italianas se estabeleceram em Santa Catarina, trazendo consigo costumes, culinária, crenças e, principalmente, a língua e os dialetos regionais que continuam vivos em grupos familiares e culturais até hoje.
Manter esse legado linguístico não é tarefa simples. Exige esforço coletivo, instituições organizadas e, acima de tudo, pessoas apaixonadas pela cultura dos antepassados. É o caso de Edith Campestrini, integrante do coral do Lira Circolo Italiano di Blumenau, uma entidade dedicada à preservação e divulgação da cultura italiana na cidade. Edith, que tem origem alemã, passou a se aproximar da cultura italiana após se casar com um descendente de italianos. “A gente acabou nos direcionando mais para as coisas da origem italiana, participando do coral, de eventos e de encontros culturais”, conta.
Na casa da sogra, a língua italiana ainda é falada diariamente, principalmente em momentos de reunião familiar. Mesmo sem ter fluência, Edith revela que consegue compreender boa parte das conversas e pretende se aprofundar no idioma. “Às vezes, a gente não fala com medo de errar, mas entender muita coisa eu consigo”, afirma. O desejo de aprender é tão grande que ela já se inscreveu em um curso de italiano no Lira e tem marcado, junto com outros integrantes do Circolo, uma viagem à Itália para estudar o idioma.
O envolvimento no Grupo de Canto Fratelli del Circolo, coral que interpreta músicas tradicionais italianas, também contribui para a familiarização com a língua e seus dialetos. Por meio da música, os participantes têm contato constante com expressões antigas e palavras que, muitas vezes, não são mais utilizadas na Itália atual, mas que seguem vivas nas colônias do Brasil.
Para Edith, é importante que as próximas gerações também conheçam e valorizem essa herança. “Tenho duas filhas e três netos que adoram tudo que é de italianidade. No momento, eles não participam ativamente por conta dos estudos e trabalho, mas com certeza irão frequentar no futuro”, diz.
Quem também defende a importância da preservação da língua é Iria Sandri Wachholz, secretária executiva do Lira Circolo Italiano. Para ela, falar italiano ou seus dialetos não é apenas questão de comunicação, mas de identidade.
“A língua italiana para nós é a nossa cultura, nossos usos e costumes. É muito bom a gente se reunir, seja onde for, e falar na mesma língua. É uma maneira de se identificar, além do português”
Iria Wachholz
De acordo com Iria, a vivência da língua italiana em Blumenau e região acontece em espaços como os cursos oferecidos pelo Lira, eventos culturais, encontros familiares e grupos de canto. Além disso, as festas tradicionais e as celebrações religiosas ajudam a manter vivas as expressões idiomáticas, muitas vezes passadas oralmente de geração para geração.
A convivência entre culturas no Vale do Itajaí, onde alemães, italianos e outras etnias compartilham o mesmo território, criou um ambiente propício para que as tradições fossem preservadas e se adaptassem ao longo do tempo. Hoje, mais do que um idioma, o italiano representa pertencimento, história e a reafirmação de raízes que ajudam a compor a identidade catarinense.