Oktoberfest de Blumenau, que neste ano completa 40 anos em sua 39ª edição, não está fora de boatos e mitos
Durante todo o mês de outubro a cidade de Blumenau é pintada de vermelho, amarelo e preto. E durante essa vivência na cidade que ouvimos diversas histórias sobre a festa. Algumas coisas levamos como verdades, outras são perguntas que ficam, porque não é importante o suficiente para perguntarmos por aí.
Independentemente de qualquer história, a Oktoberfest de Blumenau continuará sendo a maior festa alemã das américas. A estrutura melhora ano após ano, mesmo as músicas continuando as mesmas. Podemos começar a cantar “…lava bem, lava bem…” e você com toda certeza saberá finalizar e cantar no ritmo. Alguns rostos são icônicos para a cidade, como o vovô Chopão, ou a dupla Rudy e Willi. Quem mora em Blumenau e não sabe quem são estes personagens?
Embora seja uma festa extremamente divertida, a tentativa de início deu-se em um momento muito triste e que marcou a festa. As trágicas enchentes de 1983 e em 1984 foram as duas maiores tragédias da cidade. Anualmente, o povo blumenauense lida com enchente, enxurradas e desastres que desolam, mas depois o sol reaparece, voltamos a ver uma luz e de alguma forma essa festa traz esperança.

Valdemétrius Castro Neris, intérprete de libras da festa, diz que a Oktoberfest “foi criada da enchente de 1983, mas na verdade estava programado pra fazer uma festa chamada Imigrantes.”
E o que é um mito, se não a junção de várias narrativas para contar uma história? A Oktoberfest sendo uma festa tão conhecida, não seria de outra forma, se não, a junção de várias falas que não sabemos se é a verdade, mas que são passadas de geração em geração.
A historiadora Sueli Petry, mestre em História do Brasil pela UFSC, esclarece sobre a criação da festa e as enchentes: “casou com a ideia de superação, mas não tem a ver”. Segundo ela, a festa já estava planejada, mas foi transferida de ano. “Já se falava em fazer uma festa deste tipo desde 1976-77”, ressalta Sueli.
“A festa foi criada por causa das enchentes para alegrar o povo que morava aqui na cidade”.
Suzi, de 56 anos, blumenauense e participante ativa da Oktoberfest
O Brasil X Alemanha
Segundo Willi, que se tornou um dos personagens mais icônicos de Blumenau fazendo a dupla com Rudy, ao longo dos anos “abrasileiramos” muitas das tradições da festa e que tornam a Oktoberfest Blumenau melhor do que a original de Munique. “O Rollmops daqui ficou melhor do que de lá, lá é feito com outro tipo de peixe que é o Arenque, que fazem esticadinho na salmoura, não enrolado na cebola. Aqui ficou bem mais melhor”, avalia Willi. Pelo jeito ainda estamos a frente da Alemanha, mesmo com a vergonha do 7×1 na Copa de 2014.
Outro ponto que o intérprete de Libras Valdemétrius Castro Neris lembrou foi de “uma tradição de serem monges que levam o copo, mas esse monge tem origem alemã. Eles comemoravam as colheitas e era uma festa para o monge né… E aqui no Brasil acabou adotando essa tradição, que aqui não tem nada a ver com o monge”, explica.

A abertura oficial da festa, em Blumenau, foi feita sempre com os monges e um nome sendo homenageado, que entrega o primeiro copo de chopp para a rainha, momento em que acontece a sangria do primeiro barril de chopp.
O humorista Willi brincou sobre a projeção desse ano, que era de 630 litros de chopp ingeridos durante a festa: “há dois anos atrás, se não me engano, foram 600 mil pessoas e foi confirmado 600 mil litros de chopp ingeridos, ou seja, daria um litro de chopp por pessoa. E isso pra mim não é verdade”. Para ele, “um litro de chopp a gente toma no aperitivo antes do almoço, em dia de semana, em uma Oktoberfest a gente vai tomar muito mais que um litro de chopp”.
Mito que “causou” na cidade dos bons costumes
Em 2022, a cervejaria Balbúrdia criou seu icônico chopp de cannabis, o que criou um alvoroço na véspera da 37ª Oktoberfest. Muitas pessoas acreditavam que a bebida tinha a erva, porém era apenas o aroma. “São derivados de terpenos botânicos extraídos de flores e outras plantas, e do lúpulo, não possuindo qualquer princípio psicoativo”, explica a Balbúrdia Cervejaria em nota.
“O prefeito de Blumenau Mário Hildebrandt proibiu uma cerveja imitando aroma de cannabis na Oktoberfest porque “uma festa de tradição alemã, de cultura e gastronomia germânica não pode oferecer qq produto q faça alusão ao uso de drogas”. Eu conto ou vocês contam?!”.
Luis Carlos Valois, (@LuisCValois)
O chopp de cannabis foi tão impactante que o prefeito Mário Hildebrandt (PL) proibiu a venda na festa mais alemã das américas. A justificativa para a proibição seria porque a festa destina 1% da venda de bebidas alcoólica ao Fundo Municipal para Ações de Políticas Públicas sobre Drogas (Fremad). Em contato com o portal NSC Notícias, a prefeitura também afirmou que “reitera o compromisso com as causas sociais e a missão de deixar um legado com a história da Oktoberfest”.
Reações do público na rede social X (antigo Twitter):
“Chopp de maconha na Oktoberfest? Parabéns ao prefeito Mário, de Blumenau, que notificou a empresa que pretendia vender essa porcaria na nossa festa. Como ele disse, não faz o menor sentido um evento que destina 1% do lucro c/ bebidas p/ tratamentos de dependentes, aceitar isso”, escreve Paulo Filippus (@paulofillipus).
“Sabia q álcool causa dependência? Qual o sentido de um evento q destina 1% do lucro c/ bebidas p/ tratamento de dependentes aceitar uma bebida q contém álcool a substância com mais dependentes no Brasil?”, questiona Greg SMO (@greg_smo).

É importante ressaltar que mitos não devem ser confundidos com fake news. Mitos têm conexão com crenças e também achismos, diferente de fake News, que apenas propagam desinformação e ódio entre as pessoas.
Mitos enriquecem a curiosidade das pessoas para conhecer e saber mais sobre essa festa que encanta a cidade durante a primavera. A Oktoberfest 2024 aconteceu entre os dias 9 e 27 de outubro na Vila Germânica e os desfiles, que ocorreram nas quartas e sábados na rua XV de Novembro com suas alegorias e fanfarras escolares e encantaram aos moradores e visitantes.
Por: Ana Luiza e Pedro A.B.