CineSesc apresentou nas últimas semanas obras do cineasta sul-coreano
Luiz Machado
A cotidianidade às vezes irrita. É o que eu mais me disse enquanto assistia aos filmes da mostra. Estamos muito acostumados com um modelo clássico de filmes de histórias. Então quando encontramos algo completamente diferente do habitual assusta e às vezes… irrita.
Os longas de Hong Sang-soo são esquisitos, digamos assim. Seu trabalho mais popular, Na Praia à Noite Sozinha, é de longe o mais cativante exibido na mostra do CineSesc. Estruturalmente confuso ele desenvolve toda sua relação com o público através de sua protagonista, vivida por uma das musas do diretor: Kim Min-hee. Mesmo com seu desenvolvimento confuso (que eu nem dizer se é mesmo um filme) ele se exalta com sua direção e diálogos absurdamente bem escritos. Diga-se de passagem, que todo o momento em que os personagens debatem sobre serem ou não qualificados para amar, é um dos melhores momentos do cinema dessa década. Tudo, claro, carregado pela força do elenco e sua protagonista. Chega a ser surreal como Kim Min-hee entrega momentos assustadores de tão bons durante o filme.
Mesmo fora dos padrões convencionais de construção narrativa. As filmagens demonstram certo capricho visual na hora de montar visuais, figurinos e enquadramentos, mas parecem entrar em discordância quando o diretor vai completamente contra a corrente ao montar os cortes que são secos enquanto os movimentos de câmera são crus. Parece uma espécie de anti-cinema habitual e mastigado.
Com situações muitas vezes constrangedoras ele parece brincar com a falsa expectativa do público em como suas histórias podem se desenrolar. Se você está acompanhando uma charmosa e bem humorada Isabelle Huppert criar uma conexão com um salva-vidas com quem não consegue se comunicar direito e espera que um possível romance possa acontecer, preste atenção, já que mesmo entregando certos desenvolvimentos conhecidos desse tipo de filme, ele descontrói essa expectativa para acontecer de forma oposta do que geralmente aconteceria.
No final fica a mesma sensação final em todos os seus filmes. Depois de seus longos diálogos devastadores, em plano sequência e absurdamente bem escritos que lutam para formar um filme, só sobra confusão mental, igual tomar um soco.