O preconceito contra a comunidade LGBTQIAPN+ é uma realidade crescente no Brasil

Em meio a luta pela igualdade a população queer ainda enfrenta obstáculos

A LGBTfobia, também conhecida como homofobia, é o ódio ou aversão a esse grupo de pessoas. A discussão desse tema, o uso do termo e protestos contra atos homofóbicos ganham cada vez mais força, tendo em vista a realidade dessa comunidade, marcada pela violência e discriminação. 

Nesse sentido, para Maria Berenice Dias, presidente da Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB):

“Homofobia é o ato ou manifestação de ódio ou rejeição a homossexuais, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais”.

De acordo com dados da organização não governamental (ONG), Grupo Gay, fundada em 1980, a cada 20 horas 1 pessoa morre no Brasil apenas por ser LGBT. Conforme o Relatório Mundial da Transgender Europe, dos 325 assassinatos de transgêneros registrados em 71 países entre 2016 e 2017, 52% (171 casos) ocorreram no Brasil. Entretanto, apesar da existência de dados preocupantes, ainda pode-se perceber a falta de estatísticas oficiais sobre a LGBTfobia no país.

(Des)Avanços

Em 2019, o Brasil tomou medidas significativas para tentar amenizar esse cenário. Em junho daquele ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em favor da criminalização da LGBTFOBIA, configurando-a como crime de racismo. Desde então, a discriminação contra pessoas LGBTQIAPN+ possui punição de um a três anos de prisão. A pena é prevista na Lei nº 7.716/89 e o crime é inafiançável e imprescritível.

Se tal ação representou um avanço na luta contra a LGBTfobia, em outubro de 2023, o projeto de lei 5.167/2006, que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo, foi aprovado pela Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara dos Deputados. A iniciativa é considerada um retrocesso pela comunidade queer, tendo em vista que, em 2011, o casamento homoafetivo foi considerado constitucional e regulamentado por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi tomada a partir do artigo 5º da Constituição, que prevê a igualdade entre todos “sem distinção de qualquer natureza”.

Deputado Federal Pastor Eurico, relator do projeto da proibição do casamento homoafetivo. Crédito: Câmara dos Deputados.

O texto do PL 5.167/2006, que proíbe o casamento homoafetivo, foi considerado inconstitucional e discriminatório pela Comissão Nacional da Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil. O documento também foi assinado pela Comissão Nacional de Direitos Humanos e por 25 comissões estaduais da diversidade. Nesse contexto, o parecer da OAB também foi desfavorável ao projeto:

“Por ser segregacionista pretender que toda a parcela de uma população seja proibida de exercer o direito ao casamento civil em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero”. 

Com isso, é possível notar que a violência contra a comunidade LGBTQIA+ vai além do aspecto físico e se estende ao âmbito sexual e psicológico. A discriminação psicológica, muitas vezes sutil e insidiosa, contribui para um ambiente hostil que afeta profundamente a saúde mental.

Mãe é mãe

A violência sexual, frequentemente motivada por preconceitos, é outra manifestação preocupante da LGBTfobia, evidenciando a necessidade de uma abordagem holística para lidar com essa questão.

Preocupadas com a violência e a violação dos direitos humanos, a ONG Mães do Amor em Defesa da Diversidade foi criada em Blumenau. A organização não governamental reúne mães, pais e demais familiares de pessoas LGBTQIAPN+ que atuam na defesa daqueles que amam. 

Segundo Rosane Magaly Martins, presidente da ONG e advogada, uma iniciativa como essa na região de Blumenau “é muito importante para fazer um enfrentamento, para fazer discussões e para dar visibilidade às pessoas LGBTQIAPN+. A gente tem que fazer esse enfrentamento. É esse o nosso compromisso, de não permitirmos retrocessos”.

Rosane Magaly Martins, presidente da ONG Mães do Amor em Defesa da Diversidade. Crédito: Rosane Magaly Martins.

Impulsionadas pelo acolhimento, as Mães do Amor, como são popularmente conhecidas, criaram um departamento para que psicólogos voluntários possam prestar apoio às vítimas de LGBTfobia. “Nós temos o departamento no qual psicólogos voluntários se cadastram e podem estar prestando serviço de apoio para pessoas e famílias da diversidade que tenham alguma dificuldade, tudo isso de forma gratuita”, explica Rosane. 

Em um caso de LGBTfobia, pode-se fazer um boletim de ocorrência de forma online ou presencialmente em qualquer delegacia. Outras possibilidades são o Disque 100, para denúncia de violação de direitos humanos, ou o Disque 181, para denúncia geral anônima. Para pedir ajuda psicológica, o Disque 188 também está disponível.

Por Bruna Marques Friedel, Caçane Maloz e Guilherme Peters

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