Rede Feminina de Combate ao Câncer completa 50 anos em Blumenau

Ações de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação buscam melhorar a qualidade de vida das pacientes e suas famílias

Claudia Lückmann, Alexandra Bertoli e Elke Willecke tem coisas em comum: são mulheres que enfrentaram o câncer de colo de útero ou de mama, os tipos mais comuns entre as brasileiras. Em todos esses casos, elas contaram com o apoio da Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC), uma instituição que há mais de 50 anos oferece serviços de prevenção, diagnóstico e apoio às mulheres com câncer.

Para todas as mulheres que passaram pela rede, uma palavra tornou-se unânime: solidariedade. Quando para muitas o diagnóstico simboliza choque e desesperança, a entidade emerge como símbolo de fraternidade, quebrando estereótipos, superando obstáculos e abrindo caminhos para o tratamento e a cura da doença.

Claudia Lückmann Jandt, 45 anos, é uma das acolhidas pela rede. Ela passou pela unidade entre dezembro de 2021 e março de 2022, e afirma que o acompanhamento foi importante no processo de enfrentamento do câncer. “Quando recebi a notícia foi um baque, mas elas entendem o que se passa, por isso há muita fraternidade. Todas se solidarizam com nós”.

Claudia com a camiseta da campanha “Por onde for, semeie esperança e amor” – Foto: Arquivo pessoal

O trabalho na RFCC abrange a ajuda prática e apoio emocional, envolvendo pessoas que compartilham da mesma realidade física, emocional e psicológica. De acordo com Claudia Lückmann, essa empatia cria um ambiente de fraternidade:

“Eu já tinha conhecimento da rede, já frequentava para ajudar, eu tenho isso como conduta. Quando temos o diagnóstico, muita coisa se passa pela cabeça. Como são mulheres cuidando de mulheres, há um cuidado especial. Uma teia abrangente de muito amor”.

Trata-se de um caso semelhante ao de Alexandra Bertoli, 47 anos, que teve o seu diagnóstico realizado em abril de 2021, após exames na própria unidade.

Com a descoberta da doença, foi feito o encaminhamento para o Hospital Santo Antônio de Blumenau. Foram necessárias sessões de quimioterapia e cirurgias na mama esquerda. De acordo com Alexandra, foram 13 linfonodos removidos e 19 sessões de radioterapia.

Paciente em tratamento na rede – Foto: Arquivo/RFCC

De acordo com Alexandra, projetos como a RFCC são importantes por oferecem um espaço seguro e acolhedor para compartilhar experiências, dúvidas e medos, além de fornecer informações e recursos que auxiliam no cuidado e no tratamento. Em seu caso, foi necessário também o apoio psicológico:

“Senti que deveria procurar a psicóloga para conseguir me abrir mais e falar desse assunto para fortalecer quem vai começar o tratamento, para que sejam fortes. Eu vou me voluntariar para dar aula como forma de agradecimento por tudo isso”.

50 anos salvando vidas 

Em Blumenau, a RFCC foi fundada em 1973 e é uma organização sem fins lucrativos que tem como objetivo prestar assistência gratuita a pacientes portadores de câncer, além de difundir informações úteis para sua prevenção da doença.

A instituição é inspirada nos moldes de São Paulo e foi criada por Irmã Dominícia. Na época, ela era diretora do Hospital Santa Isabel de Blumenau e reuniu um grupo de senhoras para tirar a ideia do papel.

No início, o projeto tinha 20 voluntárias e realizava suas atividades em um espaço cedido dentro do hospital. Atualmente, a iniciativa conta com mais de 120 pessoas que atendem em oito setores. Só em 2022, foram mais de 20 mil atendimentos prestados para as mulheres de toda a região. 

Fundadoras da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Blumenau – Foto: Arquivo/RFCC

Entretanto, todos os exames do tipo papanicolau ainda precisavam ser enviados para Florianópolis de ônibus e somente depois de um mês as pacientes obtinham o resultado. Inconformada com o tempo e espera, Elke Willecke, um dos nomes essenciais para a fundação da entidade, abriu mão do espaço do cafezinho na sede para criar um laboratório.

Por meio de doações, foi possível realizar avanços na detecção precoce das doenças e Willecke contratou uma citotécnica – profissional que examina o material colhido – para trabalhar com o grupo. Ainda que não soubesse como pagar pelo trabalho, Elke convenceu a Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) e o Hans Prayon – da Cia. Hering – a doarem microscópios, o que fortaleceu a missão da RFCC.

Os atendimentos eram feitos dentro da estrutura do hospital – Foto: Arquivo/RFCC

Os equipamentos foram utilizados até 2017, quando uma doação do tradicional “Risoto do Bem” – ação beneficente em prol de projetos sociais – permitiu a modernização dos maquinários da instituição. Entretanto, ainda existem microscópios adquiridos naquela época que são usados até hoje, o que também ocorre com muitos computadores da entidade.

Um dia após o outro

Voluntária e ex-presidente da RFCC de Blumenau, sete anos depois de ajudar na criação da entidade, Elke Willecke recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Mesmo sabendo dos riscos, optou pela mastectomia radical. Para ela, o tratamento fortaleceu ainda mais o seu vínculo com a instituição.

Duas das fundadoras, Nair Olinger (esquerda) e Elke Willecke (direita) – Foto: Pedro Waldrich

Segundo Sueli Cristofonili, atual presidente da RFCC Blumenau:

“Realizamos também o apoio às mulheres mastectomizadas oferecendo a elas o serviço da nossa equipe multiprofissional e a ajudando com isso a diminuir as sequelas, tanto físicas quanto psicológicas deixadas pelo tratamento e para cirurgia, melhorando a sua autoestima e, de forma significativa, a qualidade de vida das nossas mulheres”.

A organização oferece também serviços de assistência social e desenvolve programas e projetos sociais que visam promover a vida, mantendo seus objetivos de instituição filantrópica. As profissionais atuam nas áreas da diretoria, conselho consultivo e fiscal, ambulatório, apoio moral e orientação à mastectomizada, comunicação institucional, psicologia, nutrição, brechó e bazar. 

Voluntárias da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Blumenau – Foto: Pedro Waldrich

Entre adversidades, superação

Em 13 de setembro de 2022, a sede da RFCC foi interditada pela Defesa Civil após desmoronamento próximo à estrutura, localizada na Rua Itajaí. Para que fosse possível dar continuidade aos atendimentos, foi cedido um espaço temporário.

Em sessão ordinária na Câmara de Vereadores, foi apresentada o Projeto de Lei 8821/2023 que previa a doação desse novo espaço à rede. O legislativo decidiu pela a doação, por unanimidade .

“O nosso batalhão está em festa e a gente tem com isso mais energia, mais do que nunca vontade de continuar o nosso voluntariado de amor, fazendo esse serviço incrível que as mulheres da nossa cidade merecem”, disse a presidente, Sueli Cristofonili, para a NDTV.

Com sede atual na rua Prefeito Frederico Brusch Júnior, no Centro de Pediatria do Vale do Itajaí (Celp) do bairro Garcia, a instituição oferece serviços gratuitos, como exames preventivos, mamografias, próteses, fisioterapia, psicologia, nutrição, orientação e apoio moral. Além disso, são realizadas campanhas de conscientização, palestras, eventos e atividades recreativas para as pacientes e suas famílias.

“Esse apoio significa muito para nós, e nos motiva a continuar nesse voluntariado de amor, nos fortalece e nos dá energia para seguir firmes na nossa incansável luta diária pela prevenção e pelo diagnóstico precoce, pelo apoio e acolhimento das mulheres da nossa cidade”

Sueli Cristofolini

O terreno da sede antiga da RFCC pertence à Prefeitura de Blumenau que ainda não sabe o que será feito no local.

A antiga e a nova sede da RFCC- Foto 1: Marcos Fernandes/SCC SBT – Foto 2: Alice Kienen/O Município Blumenau

Colabore 

A RFCC aceita doações voluntárias que podem ser feitas através de depósitos ou transferências PIX. Os dados estão disponíveis no site da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Blumenau.

Por Gabriel Langaro, Gabriel Cestari e Thiago Marques

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