Sob a chuva: a determinação de um artista estrangeiro na produção de suas obras no coletivo Colmeia

O Coletivo Colmeia é um grupo responsável por organizar um dos principais eventos culturais da cidade de Blumenau. O encontro reúne diversos artistas ligados ao grupo, entre eles o angolano, Schilo Vicente Mucoco, que conta a sua trajetória como membro do coletivo

Já eram 10 horas da manhã e o tempo estava de mau-humor no grande dia, a chuva não queria parar e o sol não dava as caras. Isso preocupava os artistas do Coletivo Colmeia, que estavam ansiosos para a 11ª edição do seu evento, mas ao chegar se depararam com poucos visitantes no grande Teatro Carlos Gomes, que, naquele momento, parecia ainda maior com seus amplos espaços vazios.

Isso preocupava o artista de origem angolana, Schilo Vicente Mucoco, conhecido como Schilomukoviç, que como participante do Colmeia via todo o seu trabalho e de seus companheiros passando despercebido. “Foi um evento que o coletivo já havia preparado a tempo para as coisas darem certo, e quando a chuva veio me perguntei se todo o trabalho seria em vão, pois aquilo foi preparado para pessoas, para a comunidade”, afirma Mucoco.


Colmeia 2024, teatro Carlos Gomes, Blumenau. Crédito: Lucas Rodrigues e Marcos Bergmann.

O encontro cultural e o seu desenrolar eram de suma importância para Schilomukoviç. Desde que chegou em Blumenau, no começo de 2024, logo conheceu a comunidade artística da cidade, diversos artistas diferentes que o apontaram para o mesmo destino, o Colmeia, esse que ele já tinha ouvido falar pelos corredores de sua universidade. Em pouco tempo, Mucoco decidiu ver como era o coletivo, participando de uma reunião de preparação para pequenos eventos realizados pela organização, chamados de polinizações, o artista então decidiu ver com seus próprios olhos como era essa ação.

O encontro o convenceu em participar do coletivo, ser mais uma abelha na colmeia para poder espalhar a arte para todos. “As abelhas pegam o pólen e distribuem para flores, e assim como elas nós temos o objetivo de espalhar e distribuir a cultura para as pessoas com difícil acesso à cultura, esse é o objetivo das polinizações”. Não só isso, mas a polinização também o persuadiu a participar da 11ª edição do Colmeia, esse que é o evento que todos comentavam com ele quando se falava sobre o coletivo. “Após a minha primeira polinização, depois de perceber o impacto social que o Colmeia traz, isso me fez querer me preparar bastante para os outros eventos”, disse o artista.

Agora, parte de um grupo de diferentes artistas, Mucoco não perdeu tempo e voltou a trabalhar em uma obra, que antes nem tinha certeza de onde iria expor e que seria a peça principal em sua eventual participação no grande evento. Seu objetivo com essa arte era alcançar algo que seria desafiador para ele, um estudante de engenharia. Até nomeou o quadro de “Minha outra parte”, para trazer destaque ao seu outro lado artístico. “Para alguém que trabalha muito com números, a parte da criatividade tende a morrer, é a lei do uso e do desuso”, comentou o artista. “Eu uso as duas coisas ao mesmo tempo, meu lado da engenharia e meu lado artístico”.

Mesmo fora do conceito da arte, a obra trazia diversas complicações no nível técnico para Mucoco. “Essa obra foi muito desafiadora para mim por ter utilizado tintas, algo que não utilizo com muita frequência para expressar aquele tipo de efeito cromático, sempre acabo utilizando mais o lápis”, afirma Schilomukoviç. “Eu levei muito tempo para terminar aquela uma obra, eu pintava muito devagar, sempre pintando um pouco quando eu chegava em casa, não gosto de fazer o trabalho às pressas, para assim ter um resultado saudável”.


Colmeia 2024, pinturas diversas em exposição, Blumenau. Crédito: Lucas Rodrigues e Marcos Bergmann.

Assim como todos os outros artistas que buscavam participar do evento Colmeia, Schilo seguiu todas as responsabilidades de um membro do coletivo, completando a sua pontuação de favos, processo seletivo para ingressar no evento principal do Colmeia, com participações em diversas reuniões e apresentações nas polinizações. Seguindo todos os passos necessários, ele conquistou o seu espaço na tão sonhada 11ª edição, tudo que esperava estava acontecendo.

Durante esse caminho, o angolano conheceu diversas pessoas e novas formas de fazer arte, sendo um dos objetivos do Colmeia: mostrar artistas com abordagens diferentes.

Sonhos e Cores: A emoção do artista em seu grande dia

Logo veio o tão esperado dia, um sábado de chuva forte, 24 de agosto. Mucoco, junto de seus colegas de coletivo, havia passado a noite anterior inteira preparando o grande teatro e a expectativa estava alta. Chegando no local ele viu poucas pessoas, o tempo havia comprometido a vinda do público, isso até fez o Mucoco se perguntar se todo aquele trabalho seria em vão, tudo que diversos artistas, incluindo ele mesmo, tinham passado o ano inteiro preparando.

Mas aos poucos as pessoas foram chegando, a chuva havia dado uma trégua e o evento foi ganhando forma, Schilo não acreditava no que via, além de tantos visitantes aparecendo, muitos estavam parando para admirar a sua arte. “Lá tudo parecia um sonho, imaginar que todas aquelas pessoas estavam lá para ver minha arte”, disse Mucoco emocionado. “Eu não chorei porque me contive com as lágrimas”.

Naquele momento o artista percebeu que todo o seu sacrifício valeu a pena e estava muito feliz pelo trabalho. Ele estava conversando com aqueles que paravam para admirar suas obras, orgulhoso de sua criação e feliz em compartilhá-la, pois para ele a arte é o amor da sua vida, possuindo muito afeto pelas suas criações. “Foi um trabalho feito de forma coletiva para proporcionar um evento como esse. Estou muito emocionado, ainda mais quando vejo esse tanto de gente em volta das minhas obras, quando digo que as obras são minhas, muitos deles não acreditaram”.

Além de sua própria exposição, Schilo apreciou os trabalhos de outros artistas presentes no Colmeia, tornando-se fã de alguns deles. Presenciando a diversidade de pessoas com perspectivas e visões diferentes sobre a arte, conhecendo a grandeza de cada um, especialmente por serem jovens como ele.


Foto do artista Schilo Vicente Mucoco. Imagem: Arquivo pessoal,

No fim das contas, o evento não se abalou pelo tempo ruim, muito pelo contrário, foi o primeiro dia que atraiu o maior número de pessoas, a arte em Blumenau estava forte como nunca. “Eu não sei o que seria da minha vida se não fosse a arte”, afirma Mucoco. Os artistas conseguiram, mesmo com diversas adversidades, vencer naquele grande evento do Colmeia.

Por: Lucas Rodrigues, Luís Bremm, Marcos Bergmann e Gustavo Benevenutti.

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