Cirurgia pioneira para transição de gênero é realizada em Blumenau

O procedimento foi realizado simultaneamente em duas irmãs gêmeas de Minas Gerais

Músicas, comidas e trajes típicos alemães talvez sejam as primeiras coisas a serem associadas à Blumenau. Entretanto, quem vê as festividades da Oktoberfest, a maior festa alemã fora da Alemanha, não imagina que a cidade é referência internacional em cirurgias de transição de gênero. O destaque nessa área se deve ao trabalho desenvolvido pelo Transgender Center Brazil, o único centro de saúde integrado especializado em pessoas transgêneros no país.

Fundada em 2014 pelo médico cirurgião-geral, plástico e bucomaxilofacial, José Carlos Martins Junior, o espaço conta com diversos tipos de procedimentos focados no público transexual, pessoas que não se identificam com o seu sexo biológico.

De acordo com texto postado no site da clínica, o projeto “surgiu após observarmos a necessidade de se criar um time de profissionais que falassem a mesma linguagem na hora do diagnóstico e tratamento de pacientes transgêneros”. Hoje, uma gama de especialistas de diversas áreas compõe a equipe do centro clínico e atuam com o foco no bem-estar e respeito aos pacientes.

José Carlos Martins Junior, médico responsável pela cirurgia das irmãs gêmeas.
Crédito: Transgender Center Brazil.

Em 2021, a clínica virou notícia fora do Brasil, ao realizar a cirurgia de transição de gênero em duas mulheres trans gêmeas, ao mesmo tempo. O feito raro na medicina foi um desejo das irmãs Mayla e Sofia, naturais da cidade de Tapira, Minas Gerais. Elas afirmam que sempre se identificaram como mulheres, sendo que aos 19 anos de idade decidiram passar pela cirurgia de redesignação sexual, alterando as características físicas do órgão genital masculino para o gênero feminino.

Para elas, esse passo era o que faltava para se sentirem de fato contentes com seus corpos.

“A cirurgia de readequação sexual pra mim ela significa liberdade”, declarou Sofia.

A decisão de passarem juntas por esse processo foi notícia em jornais como o americano, New York Post, e o espanhol, El País. Além disso, o caso é retratado na série “Gêmeas Trans – Uma Nova Vida”, disponível em seis episódios nas plataformas HBO Max e Discovery Plus.

Por que Blumenau?

Pacientes como as irmãs Mayla e Sofia, além da influenciadora digital Wanessa Wolf, são apenas alguns entre os atendimentos já realizados pela clínica catarinense.

A influenciadora Wanessa Wolf com o Doutor José Carlos Martins Junior após realização de seus procedimentos cirúrgicos. Crédito: Facebook Wanessa Wolf.

De acordo com o médico-cirurgião José Martins, a escolha pela localização do centro clínico não foi por acaso. Vindo de São Paulo, capital, ele chegou à conclusão de que a cidade não apresentava a melhor infraestrutura para o conforto que seus pacientes precisavam. “Muitas vezes, elas vinham de outras regiões e enfrentavam dificuldades de hospedagem ou se sentiam desconfortáveis após a cirurgia. Foi quando percebi que precisava de um lugar mais acolhedor e discreto para atender”, revelou ao Nosso Tal.

Segundo estudo da Associação Americana de Psiquiatria, 41% dos adolescentes transgêneros já tentaram o suicídio, contra 14% dos adolescentes em geral. Os dados e análises atribuem esse fato ao desconforto e estresse com o próprio corpo que as pessoas transexuais sentem desde muito cedo. É esse mal-estar que posteriormente leva as pessoas a procurarem ajuda médica para realizar a transição.

O processo, contudo, não se trata de uma única cirurgia, mas envolve uma série de procedimentos, como rinoplastia, harmonização facial, próteses nas mamas ou nos glúteos, entre outros. Segundo o próprio Martins, “apenas uma média de 5% quer chegar por fim na mudança de gênero, então é um erro pensarmos que toda paciente trans quer ou sonha com a cirurgia de readequação de gênero”.  

Cada processo de transição é único e requer cuidado por parte do paciente, dos profissionais de saúde, da família e também da sociedade, sendo recomendado que as pessoas trans passem por acompanhamento psicoterapêutico durante todo o processo. Segundo a psicóloga Laís Daniel, “cada indivíduo tem suas especificidades e escolhas em relação a essa mudança. É muito importante a pessoa articular com a família sobre sua escolha e seus desejos”, complementa.

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