Falta de energia deixou emissoras de rádio e televisão fora do ar em 2008

Mesmo assim, meios de comunicação foram fundamentais para informar a população sobre os locais de risco

Durante a ocorrência de desastres naturais, a busca da população por informação cresce. A quantidade de informações que circula nas redes sociais também, mas nem sempre o que as pessoas compartilham corresponde à realidade. Às vezes um vídeo antigo ou de outro lugar circula pela internet como se fosse atual ou do local onde as pessoas estão. Em situações de isolamento, como nas enchentes, fica bem difícil verificar se a informação é verdadeira.

Maior preocupação em 2008 foi com os deslizamentos de terra Foto: Divulgação/prefeitura de Blumenau/ND/Nosso Tal

Nas enchentes e deslizamentos que ocorreram em 2008 no Vale do Itajaí, o papel dos jornalistas foi fundamental para que informações corretas chegassem à população, mas sem energia elétrica, algumas emissoras de rádio e televisão não puderam funcionar e os alagamentos impediam a entrega de jornais.

“Quando começaram os deslizamentos e o nível do rio subiu, já estava de prontidão para eventualmente entrar no ar ou até mesmo conduzir uma cobertura mais ampla, a exemplo de episódios semelhantes anteriores. Só que no desastre de 2008, a energia elétrica foi interrompida muito cedo na cidade e a maioria das rádios ficou fora do ar”, lembra o jornalista Arnaldo Zimmermann.

As rádios que conseguiriam manter seu funcionamento foram fundamentais e se tornaram a principal fonte de informação para os moradores sobre o que ocorria na cidade. Segundo Arnaldo, com o rádio era possível saber onde era seguro passar, quando e aonde chegariam caminhões com água potável e quais eram os locais de risco. Os jornalistas foram também essenciais para acalmar a população e ajudar a melhor se organizar.

A cobertura de enchentes não é uma novidade para os jornalistas do Vale do Itajaí. Segundo o sistema AlertaBlu, da Defesa Civil de Blumenau, nos últimos 169 anos a cidade passou por 94 inundações. “Estávamos habituados a uma espécie de ‘marcha da enchente’. Isso quer dizer que já possuíamos protocolo e praticamente um ‘manual mental’ de como cobrir o período de elevação do nível do rio”, conta Arnaldo. “As próprias autoridades e especialistas na área também estavam habituados a esse ritual”, relembra.

Ele diz que tudo começou muito rápido e que ninguém esperava pelos deslizamentos. “Posso dizer que o primeiro grande relato de um ouvinte, naquelas emissoras, informando sobre um deslizamento fora do comum, foi exatamente às 23h23 daquele sábado, dizendo que o posto de combustíveis da rua Pomerode havia sido soterrado. Depois vieram outros e, na manhã seguinte da mesma forma, com os relatos de que morros inteiros caíram sobre casas e que havia desaparecidos. Só então a questão da enchente começou a ser minimizada e todos voltaram as suas atenções para os deslizamentos, que estavam isolando bairros e tirando a vida de pessoas de forma muito rápida”, afirma.

Arnaldo passou pelos primeiros três dias apenas escutando as informações pelo rádio até a energia voltar, na manhã de terça-feira, na emissora onde trabalhava. “Fui para lá e iniciei uma cobertura de forma contínua, contando com o apoio apenas do operador de áudio, que fazia as ligações, e um colega na retaguarda, que enviava mensagens e ajudava na atualização das informações”, conta.

Ele diz que na terça-feira a energia elétrica já havia retornado em boa parte da cidade e que o nível da água já havia baixado o suficiente para permitir a circulação das pessoas. Apenas algumas regiões continuavam isoladas em virtude dos deslizamentos, como era o caso do bairro Progresso. As informações nas rádios já não tratavam mais de alertas, mas de avisos sobre perigo e a respeito de pessoas desaparecidas, de liberação de vias e de pedidos de ajuda.

“Quando as tvs locais começaram a exibir imagens flagradas de morros desabando e de locais destruídos, é que as pessoas não atingidas perceberam o tamanho do problema”, diz. Até então, a maioria das informações eram feitas por telefone, de forma oral, sem imagens.

“O ouvinte de rádio, como morador, foi a principal fonte de informações. Isso porque as pessoas estavam próximas do local de desabamentos e ligavam para as rádios para pedir ajuda, dizendo que não conseguiam localizar um vizinho, por exemplo”, lembra Arnaldo.

Internet

A internet também se mostrou fundamental para informar à comunidade sobre o que acontecia na cidade. Os portais de notícias rapidamente produziam informações, que estavam disponíveis a qualquer momento na internet, e as redes sociais se provaram extremamente úteis para o intercâmbio de informações entre a população.

Ação humana agrava o risco de deslizamentos

Os deslizamentos de terra ocorrem quando o solo ou rochas se deslocam, principalmente em terrenos acidentados ou inclinados. Esse tipo de evento pode ser causado por vários motivos e muitas vezes é  determinado por mais de um fator.

Uma das principais causas de deslizamentos de terra são as fortes chuvas ou chuva prolongada. Boa parte da água é absorvida pelo solo, enquanto outra parte corre pela superfície. Quando a quantidade de água é excessiva, o solo fica úmido e encharcado e a terra perde estabilidade, podendo se romper. Em locais de morraria, como encostas de morros, montanhas ou serras, todo o peso da terra molhada acaba cedendo à força e gravidade e se desloca para baixo.

Esses fenômenos também são comuns em regiões desmatadas. A vegetação ajuda o solo a ficar mais resistente, pois as raízes acabam “agarrando” a terra, formando uma rede de proteção no subsolo. Por isso, é mais fácil que uma área sem árvores sofra mais com os desbarrancamentos.

Outro fato relacionado a esse tipo de desastre é a presença humana. A ocupação irregular do solo pelas cidades, principalmente nas encostas de morros, é um fator de risco. Para construir casas, as pessoas cortam a vegetação e aplainam a terra, muitas vezes à beira de penhascos. O ato de “cortar” o solo nas encostas acaba interferindo na topografia natural do morro, causando um desequilíbrio. Sem a proteção das raízes das árvores, a ação das chuvas ou de vazamento de tubulações pode, com o tempo, corroer o solo e deixá-lo frágil e suscetível a quedas.

Esse tipo de evento causa uma série de prejuízos à população, como a interrupção de estradas, o comprometimento das construções e a perda de bens e de vidas humanas e de animais.

Os desprendimentos de terra normalmente são classificados em: queda, tombamento, escorregamento e escorregamento translacional. A queda é quando pedras se soltam e caem de um penhasco, por exemplo. O tombamento é quando o solo e rochas se desprendem, geralmente na base da rocha, e tombam para a frente. Os escorregamentos são movimentos de terra em superfícies em forma de curva. Nesse caso, a parte de baixo acaba descendo e a parte de cima se inclina para trás. O escorregamento translacional, por sua vez, é quando a terra se desprende e desliza para baixo, muitas vezes em velocidade acentuada.

Em situações de chuva intensa ou prolongada, a população deve estar atenta aos seguintes sinais:

– inclinação de postes, cercas, árvores ou até mesmo muros;

– rachaduras na terra e em estruturas, que estão perdendo a base onde colocar seu peso;

– sons de estalos na natureza;

– água barrenta tanto em lagos como em rios;

– estufamento de paredes acimentadas.

Ao observar esses fenômenos, é importante acionar a Defesa Civil e, em alguns casos, abandonar o local.

Por Lillith Maria Garcia

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