Barragens do Vale do Itajaí reduzem impacto das enchentes

Novas estruturas devem ser construídas em Trombudo Central, Laurentino e Mirim Doce

Um dos principais mecanismos de contenção das cheias no Vale do Itajaí é formado pelo conjunto de três barragens construídas na bacia do rio Itajaí-Açu. Segundo o coronel Luiz Armando Schroeder Reis, Secretário de Estado da Proteção e Defesa Civil, elas desempenham um trabalho fundamental na prevenção a cheias.

“As barragens pegam todo o fluxo do rio Itajaí-Açu. Com isso, uma barragem tem uma capacidade muito maior de contenção das águas”, avalia. Ituporanga, Taió e José Boiteux são os municípios onde estão as três barragens, que desempenham papel essencial na prevenção de enchentes.

Diante dos benefícios, a construção de barragens não está isenta de críticas. Impactos ambientais, como alterações nos ecossistemas fluviais e a perda de biodiversidade, têm sido objeto de preocupação. Além disso, as comunidades locais frequentemente enfrentam deslocamentos e mudanças em seus modos de vida, levantando questões sobre a equidade social associada a esses empreendimentos.

Barragem de José Boiteux é a maior de Santa Catarina. Foto: Defesa Civil de Santa Catarina/Nosso Tal

Apesar de precisar de reparos, as duas primeiras funcionam normalmente. A chamada Barragem Sul, de Ituporanga, tem capacidade para 104,03 bilhões de litros de água e opera desde 1976. A Barragem Oeste, que fica em Taió, existe há 50 anos e comporta quase 100 bilhões de litros de água. Já a Barragem Norte, de José Boiteux, construída em 1992, pode armazenar mais de 350 bilhões de litros de água.

“As barragens de Taió e Ituporanga, assim como as cidades ao longo do rio, incluindo Rio do Sul e Blumenau, são monitoradas duas vezes por dia. Esse acompanhamento abrange não apenas os níveis das barragens, mas também os níveis nas cidades ribeirinhas”, enfatiza.

A Barragem Norte vive uma situação à parte, José Boiteux abriga a maior barragem de Santa Catarina, mas desde a sua construção, enfrenta problemas. Devido à falta de diálogo e de estudo de impacto ambiental, surgiu uma relação conflituosa com as comunidades indígenas residentes no entorno dela, o que resultou em depredações aos equipamentos e instalações. “Essas barragens tiveram seus equipamentos de controle retirados pelos indígenas, que não tiveram suas solicitações atendidas”, comenta o secretário. Até hoje o cenário na barragem é de abandono.

A estrutura é alvo de um impasse histórico entre o governo e os indígenas. A raiz do problema está na construção, em 1992. Quando decidiram construí-la dentro da terra Indígena Laklanõ Xokleng, demarcada legalmente. Por consequência, quando chove, a área é inundada e a comunidade afetada. Relatos dos indígenas mostram que ao longo da história casas, escolas e plantações se perderam justamente por causa da barragem.

Mesmo assim, três novas barragens devem ser construídas no Alto Vale do Itajaí, em Trombudo Central, Mirim Doce e Laurentino, com um orçamento estimado de R$ 60 milhões cada uma. O propósito é mitigar o impacto das cheias no Alto Vale do Itajaí, região que sofreu severamente com as chuvas neste ano. O anúncio foi feito no final de novembro pelo governo estadual, que tem o objetivo de lançar a licitação em fevereiro de 2024.

Os três componentes principais da barragens

O descarregador de fundo, presente em todas as barragens, conta com comportas que controlam a saída d’água. Essas estruturas são como portas na base da barragem. Elas controlam a saída da água, fechando em enchentes para evitar inundações e abrindo para esvaziar a barragem depois.

Quando as comportas são fechadas, a barragem começa a acumular água. Perto de atingir a capacidade máxima, as barragens começam a verter, ou seja, uma parte da água represada sai pelo vertedouro.

Os vertedores são projetados para evitar que a água ultrapasse a barragem, sendo acionados quando está cheia. Quando acontece, eles deixam a água escorrer controladamente, prevenindo danos. Em algumas barragens, como Ituporanga e Taió, a água dos vertedores é despejada diretamente no rio.

Já o canal extravasor é um “atalho” para o rio. Na barragem de José Boiteux, por exemplo, a água do vertedor segue por um canal fora da barragem até o rio, proporcionando uma saída segura para o excesso de água. Com a abertura do canal extravasor, é possível esvaziar ou reduzir o volume da água acumulado em uma barragem de forma muito mais rápida do que pela abertura das comportas.

Sem as barragens, tragédias seriam maiores

As barragens desempenham um papel vital em várias dimensões. Elas conseguem regular o fluxo dos rios, mitigam os riscos associados a inundações e garantem segurança às áreas habitadas próximas aos cursos d’água. Para isso, é fundamental que estejam em pleno funcionamento.

Em 2011, quando Blumenau foi atingida pelas cheias, a barragem de José Boiteux teve papel crucial para evitar algo pior. Para Ademar Cordero, doutor em Hidráulica e Hidrologia, se não fosse as barragens, as enchentes da região seriam maiores. “Se não tivesse a Barragem Norte, a enchente de Blumenau que foi de 13 metros, teria 15 metros”, explica. Sem as barragens, as comunidades enfrentariam desafios significativos relacionados à vulnerabilidade a cheias repentinas.

De acordo com o coronel Luiz Armando, há um plano de segurança das barragens em vigor, continuamente aperfeiçoado para possibilitar treinamentos eficazes. Além disso, existe um mapa de inundação preparado para o caso de transbordamento das barragens. A intenção é fornecer sinalizações e treinamento à população. O Secretário enfatiza que uma população bem-informada é essencial para garantir a segurança. “Essas medidas, combinadas ao trabalho colaborativo com as defesas civis municipais, ajudam a informar a população e a prevenir a ocupação de áreas de risco”, complementa.

Exemplos recentes mostram a importância de ter as barragens em funcionamento. Outubro e novembro foram meses de cheias repentinas e prolongadas e as cidades do Alto Vale tiveram as maiores marcas já registradas, afetando toda uma região.

Em Blumenau, 2023 foi o ano com mais enchentes da história do munícipio. Rio do Sul, por sua vez, foi atingida pela sua segunda maior enchente desde a fundação, e Taió nunca tinha visto nada igual, com a cidade abaixo d’água.

Entretanto, se não houvesse as barragens para conter às águas, em Taió o desastre seria ainda pior, afirma Ademar Cordero. “Na enchente de 9 de outubro de 2023 deu uma enchente, a maior da história. Saiu uma vazão de 700 metros cúbicos por segundo. Ela seria três vezes maior se tivesse deixado todas as comportas abertas”, alerta.

Taió possui uma das principais barragens do Vale do Itajaí. Foto: Defesa Civil de Santa Catarina/Nosso Tal

Para o presidente da Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (Amavi) e prefeito de Rio do Sul, José Thomé, nesta altura, em 2023, os problemas relacionados às barragens já deviam ter sido resolvidos.

“Ao longo dos últimos anos aqui em Santa Catarina, diversas audiências públicas já foram realizadas. A população tem participado em grande massa. Diante da angústia, diante do sofrimento, diante das inúmeras perdas que as enchentes trazem para a nossa cidade, para a região do Alto Vale e para o próprio estado de Santa Catarina”, destaca.

Por Miguel Bruch

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