Prefeitura, comerciantes e moradores da cidade são afetados e se reinventam para diminuir os danos das cheias
As cinco enchentes que ocorreram em Blumenau entre outubro e novembro de 2023 causaram um prejuízo estimado em cerca de R$ 30 milhões, de acordo com o prefeito Mário Hildebrandt. Para recuperar as regiões mais atingidas da cidade, a prefeitura encaminhou projetos à Defesa Civil nacional e espera receber fundos para reconstruir o que foi destruído pela força das águas e pelos deslizamentos de terra.
Em outubro de 2023, o Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, esteve na Associação dos Municípios do Vale Europeu (Amve), em Blumenau, para ouvir as demandas dos prefeitos das cidades que estiveram em situação de enchente naquele período. Durante o encontro, o ministro comunicou aos prefeitos a realização de uma força-tarefa para agilizar a reconstrução das cidades.
Mas não são apenas as estruturas públicas que precisam ser reconstruídas. Os comerciantes, mesmo aqueles que não tiveram suas lojas atingidas pelas cheias, também são impactados com a suspensão dos serviços. De acordo com Charles Schwanke, diretor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Blumenau, os empresários seguem alguns procedimentos para diminuir os impactos financeiros. “As empresas acompanham a situação das cotas por ruas e, dependendo da localidade, elas retiram o maquinário, matéria-prima, produtos, para evitar prejuízos maiores”, explica.
Foi desta forma que Roberto Jantsch, dono da primeira loja colaborativa de Blumenau, a Enxame Colaborativa, agiu diante da enchente em 2023. A loja fica localizada em uma transversal à rua Antônio da Veiga, com cota de enchente de 10,40 metros.

Proprietário da loja há seis anos, esta foi a primeira vez que Roberto enfrentou os riscos da enchente em seu negócio. Por precaução, esvaziou o empreendimento e levou os produtos para a garagem de sua casa, onde considerava seguro. “Esvaziamos a loja pela primeira vez, esperamos um dia para ver a situação, se ia abaixar ou não, mas não fomos atingidos pela água, que alcançou apenas o final da rua”, relembra.
Após essa primeira situação, Roberto reorganizou a loja e voltou ao trabalho. Mas o retorno durou poucos dias, porque na semana seguinte, Blumenau passou por outra situação de enchente. Novamente, ele esvaziou a loja, porém, desta vez, colocou os produtos no segundo andar do estabelecimento.
As enchentes de outubro de 2023 e os vários dias que o comércio parou em Blumenau, fizeram com que o número de vendas da loja colaborativa não atingisse o esperado. “Para nós, outubro normalmente é um mês muito bom em vendas. A gente compara ele ao Natal, mas esse ano a gente viu que foi um mês bem mais fraco por causa das enchentes, e acabamos perdendo bastante venda”, afirma.
Falta de informações atrasou deslocamento de famílias
Além dos donos de negócios, pessoas que moram em locais com risco de deslizamento ou ruas em regiões baixas da cidade, sujeitas a alagamentos, também sofrem com as enchentes. Em 2008, a família de Elisangela Martins Barbosa morava na rua Honduras, no bairro Ponta Aguda. Na ocasião, ela teve a casa alagada em mais de um metro. “Quando a água invadiu a casa, lembro que meu marido estava com água no peito, tentando tirar as poucas coisas que restaram na parte debaixo. Nesse período, eu, meu marido e meu filho ficamos por um tempo na casa de uma colega de trabalho”, recorda.
Segundo ela, por conta da falta de acesso às informações da enchente na época, ela e sua família não conseguiram se planejar para tirar de casa os móveis maiores, como geladeira, sofá e guarda-roupa. Todos esses itens foram perdidos pela família. Os pertences menores, como computador, televisão, roupas e colchão, foram colocados no sótão.
“Entre os móveis que perdemos com a enchente foram aproximadamente R$ 7 mil. Depois disso, ganhamos uma geladeira do meu chefe da época, compramos um fogão novo e sofá, cômoda e guarda-roupa usados”, relembra Elisangela.
Após o episódio, a família colocou a casa à venda, porém o processo demorou dois anos. O imóvel foi vendido por um valor 30% menor do que valia e para um dono de uma propriedade da mesma rua, que já sabia dos riscos no local, mas aproveitou a oportunidade do preço abaixo do comum.
Por Gabriel Menezes