Chuvas relembram catástrofes de 40 anos atrás no Vale do Itajaí

Fortes chuvas e previsões de altos níveis dos rios mobilizaram a sociedade

Em um ano que marcou 40 anos das históricas enchentes de 1983 na região, Santa Catarina teve feridas antigas reabertas ao sofrer com as fortes chuvas que começaram e não deram trégua até o fim de novembro. Entre todas as 295 cidades do estado, não houve uma que não registrou ocorrências relacionadas às fortes chuvas. Destas, 143 registraram situação de emergência e mais de 30,5 mil pessoas ficaram desabrigadas.

O Alto Vale do Itajaí foi a região mais afetada. Taió, Rio do Oeste e Rio do Sul declararam calamidade pública mais de uma vez em menos de 60 dias, e ficaram quase debaixo d’água. Em muitas ruas dessas cidades, apenas o telhado das casas ficou acima da água.

Pico do Rio Itajaí-Açu foi de 10,76 metros em 2023. Foto: Iáscara Zultanski

Nesses dois meses, Rio do Sul registrou sete enchentes. O rio Itajaí-Açu chegou a 13,40 metros, ficando atrás apenas das grandes enchentes de 1983, quando o rio atingiu 13,58 metros. Residências e comércios foram perdidos, pessoas ficaram ilhadas, e algumas chegaram a ser arrastadas pela correnteza. Um homem precisou se agarrar em uma placa de trânsito para não ser levado pela água, até ser resgatado pelo Corpo de Bombeiros.

Por conta da velocidade em que a água foi aumentando, muitos precisaram sair das casas apressadamente, e acabaram deixando animais de estimação para trás. Mais de 100 animais foram resgatados após serem abandonados.

Como a situação de Rio do Sul estava crítica, os Jogos Abertos de Santa Catarina, uma das competições esportivas mais importantes do estado, foram suspensos por tempo indeterminado.

A cidade de Trombudo Central também foi uma das mais atingidas da região, registrando a maior enchente desde 1983, e superando os registros daquele ano. Segundo informações da Defesa Civil, cerca de 90% dos imóveis da cidade sofreram prejuízos.

Mesmo com a situação crítica, em algumas cidades foram registrados pela Polícia Militar furtos e saques, feitos com canoas. Por conta disso, um toque de recolher foi adotado para facilitar o controle das autoridades.

Durante as operações nas cidades, muitos resgates e atendimentos foram realizados usando barcos, canoas e botes. Devido a deslizamentos e alagamentos, rodovias estaduais e federais e estradas ruais ficaram bloqueadas, os helicópteros Arcanjos foram utilizados para transportar pacientes de uma cidade para outra. Após analisar a situação das cidades, o Saque Calamidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foi liberado para moradores das cidades afetadas.

Onze pessoas morreram nas enchentes

As cheias que atingiram a região deixaram várias marcas, entre problemas econômicos, perda de moradias e lavouras, e vidas que foram perdidas. Ao todo 11 pessoas morreram nas cidades de  Rio do Sul, Campo Belo do Sul, Rio do Oeste, Palmeira, Três Barras e Calmon.

Segundo o Governo do Estado, as mortes, que podem ainda ser 12, foram por afogamento. Até o dia 5 de dezembro de 2023, o corpo de um homem, de 27 anos, que desapareceu no rio Itajaí-Açu, em Indaial, ainda não havia sido encontrado. Ele e o pai caíram da canoa que navegavam. O pai foi encontrado sem vida no dia 29 de novembro.

Somente no Alto Vale foram quatro mortes. Em Rio do Sul, uma idosa que tentava subir na sacada de sua casa, caiu da canoa em que estava e ficou cerca de três minutos submersa.

Em Taió, um carro foi arrastado pela força do rio e três idosas perderam a vida. Uma delas chegou a ser encaminhada ao hospital, porém não resistiu e morreu dois dias depois da catástrofe.

Festa cancelada

A cidade de Blumenau também sofreu o impacto das chuvas, mas com menor intensidade que em outras localidades. Em dois meses, a cidade registrou seis enchentes, e o rio Itajaí-Açu chegou a atingir a máxima de 10,76 metros. A 38ª Oktoberfest foi suspensa e teve desfiles cancelados. A festa, que deveria ir até o dia 22 de outubro, foi reagendada e precisou ser estendida até o dia 29 de outubro.

A cidade não registrou nenhuma destruição grave, nem mortes. Contudo, três cachorros que estavam acorrentados morreram afogados. Os abrigos da cidade passaram a abrigar animais para que os donos não precisassem abandoná-los. Ao todo, cerca de 120 pessoas utilizaram os nove abrigos abertos na cidade.

Na tradicional rua XV de Novembro e em várias ruas da cidade, comerciantes retiraram móveis e mercadorias para que não se perdesse nada. Segundo dados da Defesa Civil, entre outubro e novembro, cerca de 600 ocorrências relacionadas às chuvas foram registradas. Conforme as previsões meteorológicas do AlertaBlu, o rio Itajaí-Açu tinha a expectativa de chegar aos 12 metros, maior metragem do século, mas isso acabou não se confirmando.

Por Iáscara Zultanski e Luciano Cerin

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