Vale do Itajaí está sujeito a diversos tipos de desastres naturais

Além de fatores geológicos, crescimento populacional e escolhas políticas agravam situação dos desastres naturais na região]

Enchentes, deslizamentos e enxurradas – esses desastres naturais tornaram-se parte da realidade de muitos moradores do estado e do Vale do Itajaí, em anos como 1983, 1984, 2008 e, mais recentemente, em 2023. O contato entre a sociedade e a natureza tem resultado em perdas expressivas, não apenas em termos econômicos, mas também em vidas e ecossistemas.

Enchente atingiu estacionamento do Museu da Cerveja em 2023. Foto: Iáscara Zultanski

De fato, Santa Catarina foi um dos estados brasileiros mais atingidos por esses fenômenos nos últimos anos. Entre 1991 e 2010, o território catarinense registrou 12,2% de todas as catástrofes ocorridas no Brasil, de acordo dados do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Santa Catarina (Crea-SC).

O professor de geologia e recuperação de áreas degradadas, e doutor em Engenharia Civil, Juarês José Aumond, explica que o Vale do Itajaí, mais precisamente Blumenau, está situado em uma área com diversos tipos de rochas, incluindo o Complexo Granulítico de Santa Catarina e as rochas do Grupo Itajaí. O contato dessas rochas constitui falhas geológicas sujeitas a movimentos do solo e, por formarem vales estreitos, podem ocorrer inundações frequentes.

De acordo com o professor, a ocupação caótica das terras, a substituição de áreas verdes pela ocupação humana e a falta de respeito aos processos naturais também contribuem para a intensificação desses desastres.

Ciclo de retroalimentação positiva

Especialista em impactos ambientais, desastres, meio ambiente e percepção ambiental, e doutor em Ciências Sociais, o professor Marcos Antonio Mattedi destaca quatro fatores interligados que contribuem para a vulnerabilidade da região do Vale do Itajaí: crescimento demográfico, concentração espacial, mudança econômica e falhas políticas. 

Ele explica que a população da bacia do rio Itajaí-Açu, que possuía em 1980 cerca de 750 mil habitantes, aumentou para quase 2 milhões, em 2023. Esse crescimento populacional concentrado em um mesmo território alterou a economia do Vale, que era essencialmente industrial e passou a ser de serviços, aumentando a quantidade de construções em áreas de risco.

Além disso, ele comenta que o voluntarismo e o improviso nas estratégias de gestão política converteram a gestão dos desastres na região em uma situação na qual, enquanto um ganha, outro perde. 

“Os desastres não são apenas eventos naturais, eles são construídos politicamente. Constituem o efeito emergente de um conjunto de escolhas e isso explica por que, apesar do aperfeiçoamento do processo de gestão nos últimos 30 anos, os impactos dos desastres aumentam”, expõe.

Mattedi adverte que os desastres são problemas complexos, que se estabelecem nos pontos de encontro entre sociedade e natureza. Por isso, comenta, devem ser considerados como mecanismo políticos de alocação de recursos, pois acabam tornando os ricos mais ricos, e os pobres mais pobres. 

Ele enfatiza a importância de medidas de mitigação e preparação, incluindo uma gestão integrada da bacia hidrográfica e o fortalecimento da capacidade comunitária de autoproteção.

Para o professor Juarês, é necessário um olhar abrangente para entender a complexidade dos desastres naturais. “Podemos pelo menos minimizar os desastres. Pelo menos em parte, podemos evitar. Porque as cidades e o campo foram ocupados de uma forma caótica, sem obedecer às condições naturais do terreno e ocupando as áreas de preservação ambiental. Substituímos áreas verdes pela ocupação humana e substituímos os processos naturais pelos processos antropológicos, desprezando os importantes processos naturais que estão aí há milhões de anos”, alerta.

Vídeo: Morgana Kloth/Nosso Tal

Por Morgana Kloth

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